26 junho 2006

Deixo-me dispersar no silêncio






















No silêncio disperso-me do real e deixo as palavras virem,
Novas ou talvez não, sentidas ou frias
Elas chegam-me à mente
Apoiam-me, mimam-me, ressuscitam-me.

Saboreio o prazer da escrita
Deixando-as ocupar o seu espaço no papel,
Fixo-as levemente
Abrindo novas linhas, vestindo-as de pontos e exclamações.

Vou colorindo os sentimentos
Soltando ideias que fluem à pele.
Verás que componho uma escrita indestrutível
Que me devolve a expressão.

Assim, corto as cordas com que me prendo,
Quando não quero ir até ti.
Deito-me a observar as minúsculas estrelas e luzinhas
Como se me afundasse no céu.

Vou sem angústias compondo um novo amor
Sem me condenar a nada
Admiro os teus objectos para assim te lembrar.

Calo-me
Que não te guies pela minha voz.
Sou a mulher desabitada que se deixou esvaziar.
Tu não podes ser o amigo
Quero-te longe para não me lembrar que te amo.

24 junho 2006

São João




















É festa na cidade
Há alegria por entre a multidão.
Gerações reunidas à volta da sardinha assada
Que vira e volta a virar em cima do pedaço de pão.

De mãos dadas
Por entre as ruas da avenida,
Corremos o S. João
de martelo e alho-porro na descida.

As freguesias prepararam-se para nos receber
E na paragem para o bailarico, o tintol a aquecer.

Olha o fogo! Vamos ver!
Que espectáculo! Aih! As canas!

Como está lindo o Porto!

Estará mais belo?

Sempre!

Uma cidade que se ilumina de várias as cores!
Onde os balões ao fundo
Nos deixam a nostalgia de um dia ter de partir...

Na manhã arrefecida
É na Foz do Douro e já à beira mar
Que o frio chega.

Há ainda o cheiro a manjerico na brisa
E o das sardinhas nas mãos.

23 junho 2006

Mergulho no Oceano


















Estou em alto mar
Vejo o teu reflexo nas ondas do pensamento
Vais e voltas entre as nuvens deste ar.

Olho-te no vidro de uma garrafa perdida
Enquanto recuso ver-me chorar.
Cá dentro é tudo tão profundo, tão...

Sou doida por me sentar ao teu lado!
Quem não me disse, que me diga:
“Acorda, esse reflexo apenas está em ti.”

Há uma janela aberta ao meu lado!
Invades o meu coração mas não me dás amor.
Acabo com os estilhaços de vidro
E mergulho de vez em mim...

20 junho 2006

Esperar não é viver

























Esperar é uma dor infinita,
É o acto de criar sonhos sem os realizar,
É adiar a vida,
É deixar o que é pelo que poderá ser...

Viver é sorrir ao que amou no seu tempo,
É sorrir a quem nos ama,
É sorrir em busca do novo amante!
É sorrir na procura interminável do amor...

Viver não pode ser esperar...

16 junho 2006
















Afasto maus pensamentos de momentos presentes,
Aguardo o sol de um novo dia.
Na despedida a tormenta
Que a criança não pode entender.
Vou gulosa até ti,
Ainda não acho que mereça.


















Recordo os tempos em que chamava por ti no silêncio
Recordo quando as palavras se sobrepunham
À nossa realidade escura.
Assusta-me pensar em viver sem ti.
Já não é a tua mão que sinto
Mas sou feliz com esta enrolada à cintura.

14 junho 2006

Palavras, apenas simples palavras...




















Há na escrita uma certa esperança,
A responsabilidade de um escritor
É superior à sua própria experiência
Cabe a ele embelezar a dor.

Há vontade de preencher os corações vazios,
Recompor os destruídos,
Aclarar os tristes apagados
Trazer enfim, a vontade de recomeçar.

E quantas vezes o escritor rescreve
Tudo desde o início,
Engane-se quem pense que apagar
Sentimentos, momentos,
É coisa fácil.

Se por vezes sente-se a falha
As palavras essas estão lá
Presentes para recordar.
Saborear com um certo masoquismo
O que passou mas ficou dentro de nós:
Cravado, marcado.

Serve então a poesia para libertar
Estados de sofrimento
Traze-los de volta ao pensamento
Para que se deixem eternizar.

Apenas simples palavras...

05 junho 2006

O calor da vida

Se um dia o teu olhar estiver em mim
Saberei decifrar o sentimento.

É junto ao mar
Que sinto o gosto salgado
Daquelas lágrimas que marcaram o sofrimento.

Revejo as partes em que mereceste o reconhecimento
Pela representação,
Pelo tempo perdido em ensaios para chegares aquela perfeição.

No intervalo da interminável encenação teatral,
Amo-me...
E espero os aplausos, não os teus porque também representaste
Mas os de quem foi levado (ou será levada) por um amontoar de mentiras.

Eu, sou aquela a quem a natureza agrada todos os dias,
O sol cumprimenta-me
E amadurece-me, fazendo-me mais bela.

Bela, se um dia não fui...
Hoje, vejo o reflexo da admirável mulher
Que renasceu em mim.

O mar que me reflecte é o mesmo da maior das estrelas,
O sol...
Brilho e recebo o teu calor.